O papagaio que rezava em hebraico e falava yidish

Meyer Glusman, um solitário viúvo, caminhava para casa e acabou passando em frente a um "petshop".
E, então, ouviu distintamente uma voz engasgada que chamava:
- Vus marstu? (Como vai você?)
Meyer abriu os olhos com força tentando olhar quem falava.
O vendedor da loja convidou-o:
- Entre, senhor, e veja esta formosa ave!
Era um papagaio, pequeno, meio verde, meio amarelo, que volteando a cabeça perguntou-lhe:
- Kenst redn Idish? (Sabes falar Idish?)

Logo mais, Meyer estava pagando os R$ 1.000,00 reais que o lojista lhe pedira e levou o louro, junto com sua gaiola e comida de papagaio por um mês. E toda aquela noite os dois passaram falando em Idish!
Meyer estava maravilhado. Contou as aventuras de seu pai para fugir dos "progroms" na Rússia e de sua chegada no Brasil. Contou-lhe como era formosa Miriam, sua falecida esposa, falou da sua família, da indústria têxtil que falira e tantas coisas mais. O papagaio escutava atentamente e, por vezes, fazia algum comentário. O pássaro também falou de sua vida antes de ir para a loja de animais, de sua solidão e aborrecimento sem ter ali com quem falar. E, assim seguiram falando, falando, em idish, logicamente até caírem no sono.

No dia seguinte, Meyer colocou os "tfilin" (filactérios) e rezou. O louro perguntou que era aquilo, e com a resposta, disse-lhe a ave que também queria aprender. Meyer saiu a comprar-lhe um pequeno "tfilin" que nele coubesse. O louro ficou contente e rapidamente aprendeu a "davenen" (rezar). Chegou o Rosh Hashana (Ano Novo Judaico). O louro pediu-lhe para o levar ao "shil" (templo). Meyer explicou-lhe que lá não era lugar nem atividade para pássaros, mas o louro tanto insistiu que Meyer acabou cedendo.

Lá chegando, o louro no ombro, após mil explicações ao rabino e também ao Chazan, estes finalmente aceitaram, pois o louro em voz alta e publicamente iria "davenen". Todos os assistentes apostaram que aquilo seria impossível, pois era loucura aceitar que a ave soubesse "davenen". As apostas tornaram-se reais, em contante e sonante. O viúvo Meyer, sorrindo imperceptivelmente, aceitou todas as apostas, inclusive a do rabino...

O papagaio deixou transcorrer cada pregação e cada canção sem emitir um único som! Meyer foi à loucura e várias vezes lhe falou ao ouvido:
- Daven ! Daven!
E o louro, nada.
- Maldito louro rezaaa!! Senão te parto a cara! Rezaaa logo!
O louro nem piscava.
Terminado o serviço, Meyer devia aos seus amigos do "shil" e ao rabino uns 10.000 reais. Estava possesso. No caminho para a casa nada falou. Quando chegaram, o louro começou a cantar a plenos pulmões:
- "Hevenu sholen aleichem. Hevenu sholeeem aleichem!"
- Pássaro miserável! Gritou-lhe Meyer - Custaste-me dez mil! Porque? Sempre te tratei bem; comprei-te "teflin" e aprendestes todas as pregações. Ensinei-te o hebraico a "Torá". Porque me fizestes isso? Porque?
- Meyeeer! - Contestou suavemente o papagaio - Não sejas um "shmok" Pensa no que iremos faturar no Yom Kipur!!!...

[]'s